A vida surpreende quando observamos a natureza e percebemos alguns detalhes pela primeira, mas que sempre existiram à sua frente. Eu observava hoje a chuva vespertina pela porta entreaberta do meu local de trabalho, a fachada impedia que qualquer gota entrasse pela porta, sendo assim, foi convencionado que a porta permanecesse semiaberta. Aproximei-me, a chuva exalava um odor agradavelmente úmido e quente. Há algum tempo adotei o costume de observar paisagens por partes, fixando o olhar por alguns segundos a um mesmo ponto, notavelmente a nitidez da imagem diante de mim aumentava de uma maneira deslumbrante, cada folha, cada grão de terra, cada inseto voando, caminhando ou até pairando se tornava uma pequena paisagem.
"Deus existe e é um perfeito artista", foi o que veio a minha mente, porém não em forma de palavras. Instantaneamente, fui tomado por uma melancolia que acreditava ter me abandonado há muito tempo, me senti solitário por não compartilhar dessas imagens com alguém, ou com alguém especial na verdade.
O tempo não volta, não para, mas ele pode reacontecer nas nossas mentes, que são como a natureza, cabe a nós ignorar ou dar atenção aos detalhes das memórias.
Saudades.
